É em Arroios, em Lisboa, que fica a Tigre de Papel, uma das mais conceituadas livrarias independentes da cidade. Abriu portas em junho de 2016 e desde então mantém-se como uma referência — sobretudo para os leitores mais dedicados, curiosos e interessados em edições independentes e de autor.
“Na raiz está uma espécie de projeto a dois, que resultou de uma série de conversas com um amigo de há muitos anos, o Bernardino Aranda, que já tinha experiência de trabalho em livrarias e papelarias, no negócio dos livros escolares, etc.”, explica à NiT o gerente da Tigre de Papel, Fernando Ramalho.
“Em conversa foi surgindo esta questão de eventualmente podermos, a dada altura, ter uma livraria, com determinadas características, com certo perfil literário, de seleção de livros, e ao mesmo tempo um espaço onde pudessem acontecer alguns eventos”, acrescenta. “Entretanto foram-se juntando outras pessoas — a minha colega Rita, outros que foram entrando e saindo — e em junho de 2016 abriu a Tigre de Papel.”
Fernando Ramalho destaca uma série de vertentes que acabam por diferenciar a Tigre de Papel. “Tínhamos três ou quatro ideias que usámos mais ou menos como base: uma é a questão de vendermos livros novos e usados, sem que no espaço da organização da livraria haja uma distinção clara entre os dois. Ou seja, os livros estão misturados, há uma divisão normal temática e por género.”

E acrescenta: “não é tanto aquela lógica das livrarias de alfarrabista, que existem e têm o seu papel e que se centram sobretudo naquela ideia da circulação dos livros mais raros e difíceis de encontrar — numa lógica quase de colecionador e de pesquisa muito dirigida. Aqui, de vez em quando, aparecem alguns desses livros, mas no geral a nossa lógica é fazer circular os livros. É vendê-los a um preço acessível e sublinhar a ideia de que um livro depois de ser lido continua vivo. Pode passar para outras mãos, para outras pessoas e é isso que nos interessa com esta atividade dos livros em segunda mão, procurando que tenham um preço suficientemente acessível para que continuem a circular”.
Fernando Ramalho conta que várias pessoas se dirigem à Tigre de Papel para venderem ou oferecerem livros que têm em casa e de que já não precisam. “Nos livros novos também procuramos que a oferta livreira se centre sobretudo nas editoras independentes, mais pequenas, temos muitas edições de autor que dificilmente se encontrarão nas grandes superfícies livreiras. Eventualmente será uma diferença em relação a outras livrarias que existem pela cidade. Não nos fazia sentido criar uma livraria que fosse igual às grandes.”
Outra das vertentes tem a ver com a programação regular que a Tigre de Papel acolhe no seu espaço. Por ali costumam acontecer lançamentos e apresentações de livros, debates, encontros, atividades para os miúdos, projeções de filmes ou concertos.

“Quem tenha interesse em organizar atividades aqui terá sempre muita facilidade e abertura da nossa parte. É só uma questão de vermos se se adequa ao tipo de programação que temos — regra geral, sim — e, por outro lado, se é possível conciliar as datas e os horários. Mas tem acontecido muito. À medida que a livraria vai ficando um pouco mais conhecida, as pessoas acabam por nos vir propor fazer cá atividades”, explica Fernando Ramalho.
Entre julho e setembro, a Tigre de Papel aposta também nos livros escolares. “É um tipo de livros que já muito poucas livrarias têm. Ou seja, durante muitos anos era onde se compravam os livros escolares. Depois, com a concentração do mercado livreiro, as grandes editoras passaram a ter os próprios meios de venda dos livros e o negócio foi ficando cada vez mais difícil e menos rentável. Por isso, muito poucas livrarias subsistiram com essa atividade. No nosso caso havia esta experiência passada e resolveu-se aproveitá-la e mantê-la aqui.”
A Tigre de Papel expandiu a sua atividade ao criar uma pequena editora, que entretanto também se tornou numa distribuidora. “Permite-nos manter um contacto muito regular com as outras livrarias independentes que existem em Lisboa e no resto do País — e que nos dá a oportunidade de editar alguns livros de que gostamos e que achamos que devem ser publicados e estarem disponíveis.”
A Tigre de Papel pode ser seguida no Facebook e no Instagram, sendo que no site oficial encontrará mais informação sobre a livraria e os respetivos projetos. Está aberta todos os dias — durante a semana, entre as 10 e as 20 horas; aos fins de semana, entre as 10 e as 18 horas. Se não se quiser deslocar ao espaço, pode encomendar livros para casa.