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Little Tomodachi (ともだち)

Little Tomodachi (ともだち)

04
Abr23

Talibãs proíbem mulheres afegãs de trabalharem para a ONU em todo o país

Niel Tomodachi

Os talibãs emitiram uma ordem que proíbe as mulheres afegãs empregadas pela ONU, até agora isentas destas restrições, de trabalharem em qualquer lugar no Afeganistão, adiantou hoje o porta-voz da organização, denunciando uma decisão "inaceitável e francamente inconcebível".

Os talibãs impedem as mulheres de participarem na vida pública do país

"Fomos informados por diferentes canais que a proibição se aplica a todo o país", realçou Stéphane Dujarric, citado pela agência France-Presse (AFP).

Inicialmente, a missão das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA) tinha anunciado que os talibãs tinham proibido as seus funcionárias de trabalhar na província oriental de Nangarhar.

Dujarric referiu que a decisão é para todo o território e que a ONU ainda está à procura de mais informações.

Esta quarta-feira estão marcadas reuniões em Cabul com os "governantes de facto" do país para tentar esclarecer os detalhes, enquanto se avalia o seu possível impacto, acrescentou.

"Para o secretário-geral [António Guterres] tal proibição é inaceitável e francamente inconcebível", apontou, denunciando a vontade de "minar as capacidades das organizações humanitárias para ajudar quem mais precisa".

O porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, deixou claro que, sem as mulheres, as Nações Unidas não poderão continuar a ajudar o país população como tem feito.

"As mulheres do nosso quadro são essenciais para que as Nações Unidas prestem uma ajuda vital", sublinhou o porta-voz durante a sua conferência de imprensa diária.

Dujarric vincou que este veto não só viola "os direitos fundamentais das mulheres" como também dificulta a continuidade do trabalho da organização no terreno.

Entre outras coisas, recordou que "dada a sociedade e a cultura" no Afeganistão "são necessárias mulheres para ajudar as mulheres", que estão entre as mais ameaçadas pela enorme crise humanitária no país, aludindo ao facto de que em muitas regiões não é bem visto que os homens atendam as mulheres, ou vice-versa.

De acordo com Dujarric, a proibição é "inaceitável" e contribui para uma "tendência preocupante de minar a capacidade das organizações de ajuda humanitária de alcançar os mais necessitados".

Segundo dados da ONU, entre 30 e 40% do pessoal das organizações humanitárias que entregam, gerem, controlam ou avaliam a necessidade de assistência são mulheres.

Dujarric acrescentou que a organização tem atualmente cerca de 4.000 pessoas a trabalhar no Afeganistão, das quais cerca de 3.300 são nativas do país, embora não tenha revelado quantas são mulheres.

No dia seguinte à proibição, várias ONG anunciaram a suspensão das suas atividades, antes de as retomarem em meados de janeiro com o apoio das suas funcionárias em alguns setores que se beneficiam de isenções, como saúde e nutrição.

As mulheres ou a educação das raparigas são um assunto sensível no Afeganistão, após a tomada do poder pelos talibãs em agosto de 2021.

Os talibã impedem as mulheres de participarem na vida pública do país tendo muitas afegãs perdido os empregos no setor público.

Desde novembro do ano passado as mulheres afegãs foram também proibidas de frequentarem parques, ginásios e banhos públicos.

As mulheres afegãs não são autorizadas a viajar sem serem acompanhadas de um parente do sexo masculino e devem estar sempre cobertas quando saem de casa.

 

13
Ago22

Afeganistão. "Usar a burca é como ser sepultada viva"

Niel Tomodachi

Passar a usar a burca foi "como se fosse sepultada viva", relatou uma afegã de 19 anos à agência Lusa a propósito do primeiro aniversário da retoma do poder no país pelos talibãs.

Afeganistão. "Usar a burca é como ser sepultada viva"

Zahra (nome fictício) só conhecia, até há um ano, o Afeganistão que resultou da ocupação dos Estados Unidos e dos aliados ocidentais, em 2001.

Vinte anos depois, em 15 de agosto de 2021, os talibãs reconquistaram o poder, prometendo, na altura, manter os direitos conquistados pelas mulheres, permitindo-lhes trabalhar, frequentar escolas e ter um papel nas decisões sobre o país.

O regresso dos talibãs aconteceu na sequência da retirada das tropas norte-americanas e aliadas do solo afegão, depois de o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ter anunciado, em abril, o fim da guerra contra o terrorismo naquele país.

Apesar de considerar que a situação em que cresceu "não era a ideal", Zahra defendeu que a que resultou da saída dos ocidentais e do regresso ao poder dos talibãs "é muito, muito pior" e "chega para tirar a esperança" sobretudo às mulheres, raparigas e meninas.

As restrições impostas às mulheres começaram logo e muitas tiveram de deixar de trabalhar, afastar-se de cargos públicos, deixar as escolas e, a partir de 06 de maio passado, usar uma burca sempre que estiverem em público.

"Devem usar o 'chadri' [a burca] porque é tradicional e respeitoso", impôs um decreto publicado pelo regime talibã, adiantando que a obrigação abrange todas "as mulheres que não são nem demasiado jovens nem demasiado velhas" e que estas "devem velar o seu rosto quando encontram um homem que não é membro da sua família" de forma a evitar provocações.

A primeira vez que usou burca, Zahra sentiu "vergonha e só conseguiu olhar para o chão", e considera que "é isso mesmo que é pretendido, que as mulheres se sintam inferiores".

A burca não era estranha a Zahra, claro, e costumava ver muitas mulheres com aquele manto preto ou azul e rede nos olhos, mesmo no tempo do governo anterior. Mas nunca tinha usado e "tem medo de ter de a usar para sempre".

"É como se fosse sepultada viva", garantiu, defendendo vivamente que tem a certeza de que Deus não quereria isso para ninguém.

O medo é o sentimento mais presente na vida desta jovem afegã. Zahra contou que vive numa família só de mulheres, partilhando a vida com a sua mãe e a sua avó, que ainda se lembra de usar minissaia e passear sozinha com as amigas nas ruas de Cabul.

Mas isso "foi antes". Antes de os talibãs tomarem o poder, antes da imposição da 'sharia', o sistema jurídico do Islão tornado fundamentalista, e "antes de as mulheres serem consideradas pessoas de segunda categoria", lamenta Zahra.

"Agora, vivo com medo do futuro. Tive de abandonar a escola e temos muitas dificuldades financeiras", afirmou, acrescentando que a mãe não a quer obrigar a casar, mas "um dia, talvez tenha de aceitar o destino".

Como vive numa família só de mulheres, as dificuldades agravam-se quase todos os dias. Sair à rua é um processo complicado porque não tem em casa um 'mahram', um homem que a acompanhe e sirva de guardião aos olhos dos fundamentalistas. Embora confesse que a mãe às vezes arrisca, Zahra foi proibida de sair sem cumprir as regras.

"Elas têm medo por mim", explicou, referindo-se à mãe e à avó e admitindo que ela também tem.

Por isso, quando é absolutamente necessário sair, pede ajuda a um tio ou um primo, mas normalmente deixa-se ficar no seu quarto ou costura algumas coisas para "ajudar nas despesas".

A contrastar com as histórias que a avó conta dos anos em que era nova, quando o Afeganistão era mais parecido com um qualquer país da Europa, Zahra nem sonha em usar minissaia. Foi educada na modéstia e sempre cobriu a cabeça. "Mesmo que vivesse noutro lado, acho que não seria capaz".

Mas conduzir um carro é um sonho que tem desde pequena. "Ir para o trabalho a conduzir o meu próprio carro e a cumprimentar as pessoas na rua", descreve, referindo que reza todos os dias por esse momento.

"É um sonho de liberdade", concluiu.

 

08
Dez21

"Não vamos desistir": rádio dá voz às mulheres afegãs

Niel Tomodachi

A partir de Cabul, a capital controlada pelos Talibãs, a Rádio Begum transmite as vozes das mulheres que têm sido silenciadas no Afeganistão.

O estúdio também é uma sala de aula

A estação preenche as ondas de rádio com programação para mulheres e feita por mulheres: programas educativos, leituras de livros e aconselhamento de ouvintes que telefonam a pedir ajuda. Por enquanto, operam com a permissão dos islamistas de linha dura que recuperaram o poder em agosto e limitaram a capacidade das mulheres para trabalhar e das raparigas para frequentar a escola.

"Não vamos desistir", prometeu Hamida Aman, de 48 anos, fundadora da estação de rádio, que cresceu na Suíça depois de a sua família ter fugido do Afeganistão, alguns anos após a invasão da União Soviética."Temos de mostrar que não precisamos de ter medo", sublinha Aman, que regressou após a destituição do primeiro regime dos talibãs em 2001 pelas forças estrangeiras lideradas pelos EUA. "Temos de ocupar a esfera pública".

Hamida Aman, fundadora da rádio

Veículo para as vozes

A rádio foi fundada a 8 de março, Dia Internacional da Mulher, deste ano, cinco meses antes de os Talibãs marcharem até Cabul e finalizarem a vitória sobre o Governo apoiado pelos EUA. A partir de um bairro da classe trabalhadora, a Begum continua a transmitir para Cabul e áreas circundantes - e ao vivo no Facebook.

"Begum" era um título nobre utilizado na Ásia do Sul e agora refere-se geralmente a uma mulher muçulmana casada.

"Esta estação é um ponto de acolhimento para as vozes das mulheres, a sua dor, as suas frustrações", afirma Aman. Os Talibãs autorizaram a emissora a permanecer ativa em setembro, embora com novas limitações. As cerca de dez funcionárias da Rádio Begum costumavam partilhar um escritório com colegas homens que trabalhavam numa estação de rádio juvenil, mas agora estão separados. Cada sexo tem o seu próprio piso e foi instalada uma grande cortina opaca em frente à zona das mulheres. A música pop que se ouvia foi agora substituída por canções tradicionais e "música mais calma"

Ainda assim, para estas mulheres, trabalhar na estação é um "privilégio", já que muitas funcionárias do governo foram impedidas de regressar aos locais de trabalho. Até ao momento, os Talibãs ainda não formalizaram muitas das suas políticas, deixando lacunas na forma como estas são implementadas em todo o país.

A maioria das escolas secundárias públicas para raparigas tem estado fechada desde a tomada de posse, mas duas vezes por dia, o estúdio de rádio assemelha-se a uma sala de aula. Quando a Agência France Presse os visitou, seis raparigas e três rapazes - todos com 13 ou 14 anos de idade - estavam debruçados sobre os seus livros, enquanto o apresentador dava uma lição de justiça social no ar.

"A justiça social opõe-se ao extremismo", disse a professora de 19 anos, estudante de jornalismo até há poucos meses. "O que é a justiça no Islão?" questionou ela.

"Begum" era um título nobre utilizado na Ásia do Sul e agora refere-se geralmente a uma mulher muçulmana

"Oportunidade de ouro"

Mursal, uma menina de 13 anos, tem ido ao estúdio para estudar desde que os Talibãs bloquearam a reabertura de algumas escolas secundárias e deixa um recado a outras meninas como ela: "A minha mensagem às raparigas que não podem ir à escola é ouvir atentamente o nosso programa, para usar esta oportunidade e oportunidade de ouro, por que podem não a ter novamente", explicou a jovem.

Mas nesta rádio também há programação e aulas para adultos. Numa dessas lições, a diretora da estação, Saba Chaman, 24 anos, leu a autobiografia de Michelle Obama em Dari. Chaman está também particularmente orgulhosa de um programa em que as ouvintes pedem aconselhamento psicológico.

Em 2016, apenas 18% das mulheres no Afeganistão eram alfabetizadas em comparação com 62% dos homens, de acordo com o antigo Ministério da Educação. "As mulheres analfabetas são como os cegos", disse uma mulher que não sabe ler na antena da Rádio Begum. "Quando vou à farmácia, dão-me medicamentos foram do prazo. Se conseguisse ler, elas não o fariam".

Alguns meses após a tomada do poder pelos Talibã, Aman encontrou-se com o porta-voz Zabihullah Mujahid e disse-lhe que a rádio estava "a trabalhar para dar voz às mulheres". Ele foi "muito encorajador", afirmou, mas pouco se sabe sobre o que vai acontecer.

 

Mas o futuro é incerto.

Em setembro, a principal estação de televisão independente do país, Tolo News, noticiou que mais de 150 empresas tinham fechado por causa de restrições e problemas financeiros e, desta forma, a Rádio Begum já não recebe receitas publicitárias. Se não forem recebidos fundos no prazo de três meses, as vozes destas mulheres desaparecerão das ondas de rádio do Afeganistão.

"A minha única causa de esperança neste momento é saber que estou a fazer algo importante na minha vida para ajudar as mulheres afegãs", concluiu Chaman.

(S)

22
Out21

Voltar a ser virgem para sobreviver no Afeganistão

Niel Tomodachi

Fugir e desonrar a família ou morrer a tentar amar. Chegar ao casamento não virgem é uma sentença de morte para as mulheres afegãs, obrigadas a recorrer a cirurgias de reconstrução do hímen. Os testes de virgindade são pedidos com frequência pelas autoridades e por familiares.

No Afeganistão, as mulheres solteiras não podem ter relações sexuais

Têm apenas 22 anos e, às costas, o peso de um crime já cometido - relações sexuais entre solteiros - e de um segundo que sonham cometer: fugir do país. Embora este último não esteja tipificado na lei afegã, merece igual reprovação, numa sociedade que reprime, persegue e castiga os jovens que ousam sonhar.

Com o regresso da força talibã ao poder, ao fim de 20 anos, a história de amor de Leila e Ehsan complica-se. O casal aceitou falar com o "El País" - que por motivos de segurança lhe atribuiu nomes fictícios - mas não esconde o medo: as suas vidas estão em perigo. Imaginar uma vida a dois em Cabul, com independência e um futuro livre é, para eles, quase uma utopia.

Numa altura em que, com a criação do Emirado Estado islâmico, o Ministério da Mulher acaba de desaparecer (substituído por uma espécie de "polícia moral" que promove a virtude), Leila decidiu submeter-se a uma cirurgia ginecológica para reconstruir o hímen. Voltar a ser virgem por não acreditar que os ventos possam mudar a seu favor.

Tem casamento marcado, daqui a seis meses, com o noivo que a família lhe escolheu e, se assim não fosse, estaria a desonrar ambas as famílias, explica, de forma crua, a estudante de Tecnologia da Saúde, fazendo o gesto de cortar o pescoço.

As provas de virgindade continuam frequentes no Afeganistão, não só a pedido das autoridades mas das próprias famílias, confirmou Heather Barr, responsável da área das mulheres da "Human Rights Watch". Daí a nobreza do trabalho de Shakila, a médica, de 30 anos, que operou Leila e tantas outras jovens. "Quero ajudar as meninas a terem uma vida livre e feliz", sublinhou. "É por isso que é tão importante para mim restaurar-lhes o hímen. Temos uma religião que proíbe as raparigas de fazerem sexo sem serem casadas. E quem não casa tem de ficar com o hímen intacto", explicou, assumindo que vive apavorada que alguém (incluindo o próprio marido) descubra esta vertente do seu trabalho.

Nos últimos sete anos, Shakila, que trabalha num hospital privado, já fez mais de 70 cirurgias ginecológicas do género. Utiliza os seus próprios instrumentos - num procedimento que considera simples e sem riscos - e aceita a vida dupla porque sabe que está a salvar vidas. "Eles podem matá-las". Cada intervenção ronda os 430 euros mas, na maior parte das vezes, não consegue cobrá-los porque as pacientes não têm dinheiro. Além de ser contactada pelas adolescentes, muitos pais recorrem aos seus serviços, sobretudo em caso de violação.

Segundo dados da "Human Rights Watch", em 2012 havia cerca de 400 adolescentes e mulheres presas, no Afeganistão, por crimes relacionados com a moral. Punição que as autoridades pretendem que sirva de exemplo a todas as raparigas que tentam evitar casamentos forçados, violações e outro tipo de abusos.

É por isso que Leila não expressa grande reação quando Ehsan garante ao "El País" que vai lutar para salvar este amor. "Temos de encontrar uma maneira de ficar juntos", atira o estudante de Economia. E o tempo está a esgotar-se.

 

01
Set21

ONU insta talibãs a protegerem direitos das crianças

Niel Tomodachi

45% da população afegã são crianças com menos de 15 anos. A ONU apelou assim aos talibãs para "respeitarem e protegerem os direitos humanos" e às comunidades internacionais para "não as abandonarem."

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As Nações Unidas apelaram esta terça-feira aos talibãs para “respeitarem e protegerem os direitos humanos” e também à comunidade internacional para “não abandonar as crianças” no Afeganistão, já que 45% da população tem menos de 15 anos de idade.

Numa declaração conjunta, a representante especial do secretário-geral da ONU para as Crianças e Conflitos Armados, Virginia Gamba, e a representante especial para a Violência contra as Crianças, Najat Maala M’jid, condenaram os “horríveis e mortais ataques contra o aeroporto de Cabul, no qual terão sido mortas e mutiladas crianças“, expressando “as mais profundas condolências” às vítimas e ao povo afegão.

“Os atuais contextos políticos e de segurança não devem apagar o progresso dos direitos humanos, incluindo os das crianças e mulheres. Exortamos os talibãs e outros partidos a respeitar a dignidade e os direitos humanos de todos os afegãos, incluindo rapazes e raparigas. Assegurar a proteção das crianças contra os danos e incluir as suas vozes e necessidades é fundamental para a paz e o desenvolvimento sustentáveis no Afeganistão”, vincaram os responsáveis.

As duas representantes recordam aos talibãs que estão “vinculados a todas as normas internacionais com as quais o Afeganistão já se comprometeu para a proteção das crianças”.

Além disso, demonstraram preocupação com os direitos das raparigas, incluindo a violência sexual e baseada no género, referindo que o direito à educação das mulheres deve continuar a ser respeitado e protegido de ameaças.

Segundo o comunicado, a primeira metade do ano testemunhou “um número alarmante de violações graves cometidas contra crianças”, o que levou os funcionários a instar os talibãs a garantir o respeito e proteção da ajuda humanitária, num país onde “10 milhões de crianças” precisam dessa ajuda para “sobreviver no terreno”.

“Proteger os direitos de todos os afegãos, incluindo os direitos das crianças, é a única solução sustentável para a paz”, finaliza a declaração.

No documento, a ONU referiu que o Conselho de Segurança identificou seis violações graves contra crianças: recrutamento e utilização, assassínio e mutilação, violação ou outras formas de violência sexual, ataques a escolas e hospitais, raptos e negação de acesso humanitário para crianças.

 

24
Ago21

Ser-se LGBTI no Afeganistão: “Como pessoa gay, não posso revelar quem sou, nem mesmo à minha família ou amigos”

Texto by Esqrever

Niel Tomodachi

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Antes da revolta talibã no Afeganistão, a vida de Abdul, um homem gay cujo nome foi aqui alterado, já era perigosa. Bastaria que falasse da sua identidade com a pessoa errada e Abdul poderia ser preso e levado a tribunal devido à sua orientação sexual, sob as leis afegãs.

Mas desde que os talibãs assumiram o controlo das principais cidades do Afeganistão na semana passada, Abdul explicou à BBC que a sua orientação revelada agora o teria “morto no local“.

Os Talibã são um grupo militar que assumiu o controlo do país de Abdul e são conhecidos por impor ideologias islâmicas extremas. Sob a sua interpretação da Lei da Sharia, a homossexualidade é estritamente proibida e punível com a morte.

A última vez que estiveram no poder no Afeganistão, entre o final dos anos 1990 e 2001, Abdul, hoje com 21 anos, não tinha ainda nascido.

Ouvi a minha família e anciãos falarem dos Talibãs“, disse, “assistimos a alguns filmes, mas agora é como se estivéssemos dentro desse filme.

Esta semana, Abdul deveria estar a realizar os seus exames universitários finais, ir almoçar com amigos e visitar o seu namorado, que conheceu há três anos. Em vez disso, ele está sentado na sua casa pelo quarto dia consecutivo. Há soldados talibãs atualmente do lado de fora da sua porta.

Mesmo quando os vejo através das janelas, sinto muito medo. O meu corpo começa a tremer ao vê-los“, disse. “Civis estão a ser mortos. Acho que nunca falarei à frente deles.”

Não são apenas os novos líderes do Afeganistão que não podem descobrir sobre a orientação sexual de Abdul. “Como pessoa gay no Afeganistão, não posso revelar quem sou, nem mesmo à minha família ou aos meus amigos. Se eu contasse à minha família, talvez eles me agredissem ou mesmo matassem.

A ofensa à família é, aliás e ironicamente, uma das razões pelas quais talibãs não nomeiam as suas vítimas LGBTI, por respeito às famílias que veriam os seus nomes associados publicamente a homossexuais.

Embora estivesse a esconder quem é, Abdul aproveitava a sua vida no vibrante centro de Cabul. “Os meus estudos estavam a progredir e havia vida na cidade, havia multidões na cidade.”

No espaço de uma única semana, Abdul sente que viu a sua vida desaparecer diante dele.

Não há futuro para nós“, desabafou. “Acho que nunca continuarei a minha educação. Perdi o contacto com os meus amigos e não sei se estão bem.

O meu parceiro está preso numa cidade diferente com a sua família e nem eu posso ir lá, como ele também não pode vir ter comigo.”

O seu pai, que trabalhava para o governo, escondeu-se por medo dos Talibãs. A maioria das mulheres que Abdul conhece não sairá de casa com medo. Alguns assumem o risco, mas apenas quando acompanhadas por um homem.

Na semana passada, a saúde mental de Abdul deteriorou-se, confessando que tem tido ideação suicida, “eu não quero viver esse tipo de vida.”

 

“Quero um futuro em que possa viver livremente.”

Abdul não tem esperança sobre as promessas dos Talibãs governar de forma diferente e dar às mulheres mais oportunidades. “Mesmo que os Talibãs aceitem uma mulher no governo, na escola, eles nunca aceitarão pessoas LGBTI. Eles vão matá-las.

Abdul diz que está “à espera de encontrar uma maneira de sair do país“. Há instituições de caridade e ativistas que tentam ajudar a população afegã. O Reino Unido está a planear retirar 20.000 migrantes do país, mas Abdul diz que ninguém sabe como se inscrever.

A instituição de caridade do Reino Unido Stonewall pediu ao governo britânico que comece a “ajudar pessoas refugiadas afegãs LGBTI a sobreviver, estabelecerem-se e prosperarem no país“.

Se alguém está a ouvir a minha mensagem, enquanto jovem, tenho o direito de viver livre e em segurança“, disse Abdul. “Tenho 21 anos. Toda a minha vida passei na guerra, com explosões de bombas, a perder amigos, a perder família. Rezem pelas nossas vidas.


Linhas de Apoio e de Prevenção do Suicídio em Portugal

Linha LGBT
De Quinta a Sábado, das 20h às 23h
218 873 922
969 239 229

SOS Voz Amiga
(entre as 16 e as 24h00)
213 544 545
912 802 669
963 524 660

Telefone da Amizade
228 323 535

Escutar – Voz de Apoio – Gaia
225 506 070

SOS Estudante
(20h00 à 1h00)
969 554 545

Vozes Amigas de Esperança
(20h00 às 23h00)
222 080 707

Centro Internet Segura
800 219 090

 

(S)

21
Ago21

"Não se pode dar nem um euro" a quem não respeita direitos das mulheres

Niel Tomodachi

A presidente da Comissão Europeia defendeu hoje que "não se pode dar um euro que seja de ajuda humanitária a regimes que negam às suas mulheres os seus direitos, liberdades e o acesso ao trabalho e aos estudos".

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Em conferência de imprensa em Madrid, à margem da visita a um centro de acolhimento para os funcionários afegãos das instituições da União Europeia (UE), acompanhada pelo primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, e pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, Ursula von der Leyen sublinhou que não há um reconhecimento político do novo regime afegão, admitindo, no entanto, contactos operacionais.

"Não há conversações políticas com os talibãs, não há reconhecimento dos talibãs, mas temos, claro, contactos operacionais com os talibãs, o que é algo completamente diferente", disse a responsável, precisando que estas conversas visam garantir o trânsito para o aeroporto das pessoas que querem sair do Afeganistão.

Na conferência de imprensa em Madrid, a responsável salientou que "os milhões de euros de fundos europeus para ajuda ao desenvolvimento estão condicionados ao respeito pelos direitos humanos, das minorias e das mulheres e meninas".

Ursula von der Leyen acrescentou: "Podemos ouvir os talibãs, mas vamos avaliá-los pelos seus atos; a situação é muito pouco clara".

O centro de acolhimento fica na base militar de Torrejon de Ardoz, perto de Madrid, e pode acolher mil pessoas.

Os talibãs conquistaram a capital do Afeganistão, Cabul, no domingo, culminando uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO do país.

As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista (1996-2001), que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.

A tomada da capital põe fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e dos seus aliados na NATO, incluindo Portugal.

Depois da tomada do poder, as forças talibãs proclamaram o Emirado Islâmico, em Cabul, tendo afirmado desde o princípio da semana que não procuram exercer atos de vingança contra os antigos inimigos e que estão dispostos à "reconciliação nacional".

Os talibãs já disseram que há "muitas diferenças" na forma de governar, em relação ao seu período anterior no poder, entre 1996 e 2001, quando impuseram uma interpretação da lei islâmica que impediu as mulheres de trabalhar ou estudar e que puniu criminosos de delito comum com punições severas como amputações ou execuções sumárias.

 

20
Ago21

Shamsia Hassani: As ilustrações que espreitam pelo véu do futuro do Afeganistão

Niel Tomodachi

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Shamsia Hassani pinta “com um coração partido”. A “primeira artista urbana do Afeganistão”, como se auto-intitula, está habituada a criar sobre a destruição. Quase todos os murais que deixou nas ruas de Cabul são protagonizadas por uma mulher — uma imagem que os taliban poderão querer começar a apagar das ruas da capital afegã. 

Uma entrevista a uma jornalista de uma popular televisão privada e as declarações vagas sobre os direitos das mulheres “dentro do quadro do Islão​” não convenceram as afegãs, associações feministas e estrangeiros que assistiram com preocupação à ocupação do Palácio Presidencial de Cabul pelo grupo fundamentalista. Nos últimos dias, há relatos de protestos e tiros contra manifestantes que exigem manter a bandeira do país. Jornalistas afegãos também dizem ter sido espancados. 

Nas redes sociais, entre pedidos de ajuda de organizações não-governamentais internacionais e petições para abrir rotas seguras de migração e investir mais no apoio a pessoas refugiadas, têm sido partilhados relatos e ilustrações de mulheres, um dos grupos da população que mais teme uma regressão de direitos conquistados nos últimos 20 anos, desde o acesso à escolaridade ao direito ao trabalho ou à participação política. Em muitas das imagens é retratado o temido regresso da obrigatoriedade do uso de burqa, o véu completo com uma rede na zona dos olhos por onde muitas mulheres não querem ser forçadas a espreitar. 

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20
Ago21

Afeganistão. Mulheres desafiam talibãs exigindo os seus direitos

Niel Tomodachi

Algumas mulheres afegãs, com medo do regresso das restrições impostas no anterior regime, começam a desafiar os talibãs com protestos públicos exigindo ser incluídas no Governo que está a ser formado e o direito de continuarem a trabalhar.

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São cada vez mais as imagens de mulheres brandindo cartazes e divulgando palavras de ordem contra os talibãs em todo o Afeganistão, um símbolo da resistência de jornalistas, ativistas e trabalhadoras que se opõem a retroceder àquela obscura era de repressão.

Um grupo de trabalhadoras de departamentos governamentais e ativistas saiu à rua em Cabul para pedir ao movimento talibã papéis no novo Governo, assim como a manutenção dos seus empregos em escritórios estatais, noticiou hoje o canal afegão Tolo.

"O povo, o Governo e qualquer funcionário que vá formar um Estado no futuro não pode ignorar as mulheres do Afeganistão. Não desistiremos do nosso direito à educação, do direito ao trabalho e do nosso direito à participação política e social", disse ao canal televisivo a ativista Fariha Esar.

As manifestações foram reduzidas, mas vão ganhando força à medida que passam os dias, quando muitos recordam o regime talibã de entre 1996 e 2001, altura em que as mulheres não podiam trabalhar e as meninas não podiam ir à escola, e eram reclusas dentro das suas casas.

No entanto, os talibãs asseguraram agora de forma insistente que as mulheres poderão continuar com os seus estilos de vida tal como até agora, voltando às escolas ou aos seus empregos, com os limites que o Islão estabelece, mas algumas trabalhadoras, sobretudo jornalistas, estão a denunciar que, na prática, essa promessa não está a ser cumprida.

"Queria voltar a trabalhar, mas lamentavelmente [os talibãs] não me deixaram. Disseram-me que o regime mudou e não se pode trabalhar", declarou a jornalista de televisão Shabnam Dawran num vídeo amplamente difundido na quinta-feira, uma denúncia que contrasta com a imagem da passada terça-feira, dois dias após a tomada de Cabul, de uma repórter da Tolo News a entrevistar um dirigente talibã.

O coordenador do Comité para a Proteção de Jornalistas no Sul da Ásia, Steven Butler, condenou as medidas de "despojar os órgãos de comunicação social públicos de proeminentes mulheres 'pivots' de notícias, [o que] é um sinal sinistro de que os talibãs do Afeganistão não têm qualquer intenção de cumprir a sua promessa de respeitar os direitos das mulheres".

Durante o anterior "reinado" dos talibãs no Afeganistão, jogos, música, fotografia e televisão eram proibidos; as mãos eram cortadas aos ladrões, os assassinos eram executados em público e os homossexuais, mortos; as mulheres estavam proibidas de trabalhar e de sair à rua sem um acompanhante do sexo masculino e as meninas, de ir à escola; e as mulheres acusadas de adultério -- sendo também consideradas adúlteras as que tivessem sido violadas -- eram chicoteadas e apedrejadas até à morte.

Desta vez, um porta-voz dos talibãs, Suhail Shaheen, afirmou à estação televisiva britânica Sky News que a 'burqa', a veste cobrindo todo o corpo e o rosto com uma rede em tecido ao nível dos olhos, já não será obrigatória.

Apresentando-se como mais moderados, os talibãs parecem estar a ter uma receção internacional menos hostil que há 20 anos, quando apenas três países (Paquistão, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita) reconheceram o seu regime, embora até agora ainda nenhum país o tenha feito.

 

16
Ago21

Afeganistão: ONG apela a asilo em Portugal para mulheres e crianças

Niel Tomodachi

A Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres (PPDM) apela ao Governo para que conceda asilo político a todas as mulheres afegãs e filhos menores que queiram refugiar-se em Portugal, face ao agravar da situação no Afeganistão.

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Em comunicado hoje divulgado, a PPDM declara-se "apreensiva face à situação atual das mulheres no Afeganistão e à ameaça que sobre elas pesa de um novo governo talibã extremista e desrespeitador da sua integridade física, da sua dignidade humana e dos seus mais elementares direitos".

Perante isto, apela para que, "tendo em conta a capacidade de acolhimento existente, o Governo considere favoravelmente a concessão de asilo político a todas as mulheres afegãs e a suas/seus filhas/filhos menores que queiram refugiar-se no nosso país".

A PPDM recupera uma nota da associação de defesa dos direitos das mulheres afegãs NEGAR, publicada na sua página oficial a 11 de agosto, e na qual se apela a uma atenção internacional a um "degradar" das condições no país desde o início da retirada das tropas americanas.

"As mulheres afegãs estão mais uma vez em perigo, ameaçadas de perder os seus direitos, como nos anos de chumbo (1996-2001, [de domínio talibã no Afeganistão]), refere a nota da associação NEGAR.

A nota, de data anterior à entrada na capital afegã Cabul, refere que nas zonas controladas pelos talibãs naquele momento já existiam diretivas a proibir as mulheres de sair à rua sem ser na companhia de um homem da sua família e a ordenar às comunidades que fossem feitas listas de todas as raparigas com mais de 15 anos e mulheres viúvas menores de 45 anos para "recompensar os combatentes", ou seja, para serem usadas em casamentos forçados com os talibã que vieram do Paquistão para combater no Afeganistão.

Depois de várias ofensivas iniciadas em maio deste ano, na sequência do anúncio dos Estados Unidos da retirada final dos seus militares do Afeganistão, os talibãs conquistaram no domingo a última das grandes cidades que ainda não estavam sob seu poder -- a capital, Cabul -, tendo hoje declarado o fim da guerra no Afeganistão e a sua vitória.

O Presidente afegão, Ashraf Ghani, abandonou o país no domingo, quando os talibãs estavam às portas da capital, enquanto os líderes do movimento radical islâmico se apoderavam do palácio presidencial.

A entrada das forças talibãs em Cabul pôs fim a uma campanha militar de duas décadas liderada pelos Estados Unidos e apoiada pelos seus aliados, incluindo Portugal. As forças de segurança afegãs, treinadas pelos militares estrangeiros, colapsaram antes da entrada dos talibãs na cidade de Cabul.

Milhares de afegãos, em Cabul, tentam fugir do país e muitos dirigiram-se para o aeroporto internacional onde a situação é caótica.

A situação no Afeganistão será ainda debatida na terça-feira numa reunião extraordinária dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 Estados-membros da União Europeia, na qual Portugal será representado pela secretária de Estado dos Assuntos Europeus, já que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, está atualmente de férias.

Foi anunciada para hoje pela Casa Branca uma declaração do Presidente norte-americano Joe Biden.

 

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