Quatro em cada cinco alunos LGBTQ preferem não revelar orientação sexual aos professores
Estudo da Universidade do Porto revela que grande parte dos alunos LGBTQ preferem não revelar a sua orientação sexual aos professores ou funcionários da escola. Investigação mostra ainda como tópicos relacionados com pessoas lésbicas, gays ou bissexuais ou com bullying homofóbico e transfóbico ou sobre aceitação da população LGBTQ ainda estão fora das salas de aula. Um em cada 10 alunos desta inquérito sofreu alguma tentativa de conversão da sua orientação sexual.
Um inquérito feito por uma equipa do Centro de Psicologia da Universidade do Porto, e citado esta terça-feira pelo jornal Público, revela que quatro em cada cinco alunos LGBTQ (lésbica, gay, bissexual, transgénero, queer ou em questionamento), de minorias sexuais e de género, preferem não revelar a sua orientação sexual aos professores ou funcionários.
O mesmo trabalho revela que estes jovens são mais vezes vítimas de bullying do que os colegas heterossexuais ou cisgénero.
Questionados sobre a quem é que, na escola, os jovens contaram que são LGBTQ, 81% dos estudantes responde que nunca contou a nenhum professor ou funcionário e apenas 3,3% contaram a todos ou à maior parte dos adultos da escola.
Já entre colegas os números revelam mais confiança com 37% dos jovens a afirmar que tinha dito a toda a turma ou à maior parte, sendo que o valor baixa para 13% quando se colocam outras turmas na equação.
Relativamente ao grupo de amigos, 43,8% jovens LGBTQ afirmaram que todos sabiam, mas 27,4% contou a apenas alguns ou a nenhum amigo.
Para além destes números o inquérito evidencia ainda um problema na hora de levar os temas relacionados com a comunidade LGBTQ. Três em cada cinco estudantes dizem nunca ter aprendido nas aulas sobre bullying homofóbico e transfóbico ou sobre aceitação da população LGBTQ.
Mais: 40,6% nunca ouviram nas aulas tópicos relacionados com pessoas lésbicas, gays ou bissexuais, e 54,2% afirma que nunca foram abordados assuntos relacionados com pessoas transgénero. E ainda 56,3% dos alunos dizem que as aulas de educação sexual não abordaram a existência de diferentes orientações sexuais.
Os dados preliminares deste relatório revelam ainda outra realidade, a de que cerca de um em cada dez jovens LGBTQ já sofreu alguma tentativa de conversão da sua orientação sexual. Dos quase 700 alunos que responderam identificar-se como não heterossexuais, 8,6% foram vítimas de algum tipo de tentativa de mudança da orientação sexual: em oito casos foi conduzida por um profissional de saúde, em 15 casos por um líder religioso e em 44 casos por outra pessoa, maioritariamente um membro da família.
Este relatório faz parte de um estudo alargado sobre diversidade sexual e de género nas escolas, que foi aplicado também em Itália, Espanha, Grécia, Eslovénia, Letónia, Croácia, Irlanda, Áustria, França e Reino Unido no âmbito de um projeto europeu coordenado pela Universidade de Ghent, na Bélgica.