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Little Tomodachi (ともだち)

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21
Nov22

Mamaminha: a exposição que aborda o cancro da mama de forma artística e descomplexada

Niel Tomodachi

Inês Carrelhas é artista têxtil e a responsável pelo projeto que "trata o tema sem tabus" e que promove "a aceitação do corpo".

O cancro continua a ser um tema cheio de tabus, mitos e que precisa de ser desmistificado. Os diagnósticos quase duplicaram nas duas últimas décadas e as previsões indicam que, em 2040, os novos casos serão 50 por cento superiores aos atuais e que, provavelmente, uma em cada cinco pessoas terá uma doença oncológica durante a vida.

Quando se trata da patologia que afeta a mama em particular, o assunto não é mais simples. Segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de sete milhões de mulheres têm cancro da mama, tornando-o num dos tumores malignos mais mortais. No nosso País são detetados, anualmente, cerca de sete mil casos — 1.800 pessoas acabam por morrer. A doença não afeta apenas mulheres: na verdade, um por cento dos diagnosticados são homens.

“Eles também o têm, contudo, não falam abertamente sobre isso”, diz à NiT Inês Carrelhas de 58 anos. E fala por experiência. Inês é a responsável por um projeto que pretende sensibilizar o público para temáticas relacionadas com o cancro de mama. Ligada desde sempre à arte têxtil e tapeçaria, a artista construiu os alicerces da iniciativa “no decorrer de um processo da confirmação, integração, aceitação e cura de um cancro de mama”.

“Nesse momento, comecei a pensar que queria deixar uma obra e envolver mais pessoas com o mesmo problema”, começa por nos contar. Se há quem faça tricô para se entreter enquanto faz tempo, Inês ocupava-se com outros materiais. “Comecei a forrar os aros dos soutiens entre os corredores do Instituto Português de Oncologia (IPO) e a Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa”, revela. O nome não podia ser mais claro: “chamei-lhe mamaminha”.

A inspiração é da artista têxtil, mas a envolvência é de vários e nada é feito por acaso. “Tudo começou em janeiro de 2018 com este objeto — a parte de metal do sutien”. Ao sentir um desconforto, apercebeu-se de um caroço (maligno). Começou, então, a pedir à amigas que os tirassem e que lhe dessem e deu início à obra alusiva ao cancro da mama.

Hoje, afirma ser um trabalho coletivo e itinerante e conta já com quatro exposições feitas. A quinta já começou e ainda vai a tempo de a visitar. Esqueça aquela ideia das tradicionais mostras artísticas. Nesta qualquer pessoa que esteja  a passar pela mesma situação pode participar. Mamaminha foi inaugurada no sábado, 19 de novembro, a convite da Câmara Municipal de Castelo Branco. Poderá ser visitada no Museu Francisco Tavares Proença Júnior, em Castelo Branco, até 15 de janeiro de 2023.

“Não é só uma exposição de arte têxtil, mas também é um trabalho de inclusão que dá oportunidade, através de uma experiência plástica —  um workshop, como gostam de chamar, ainda que considere ser mais um atelier — de um exercício de reconstrução e de aceitação do corpo”.

O momento é gratuito e acontece aos fins-de-semana segundo a inscrição através do contacto +351 910180099 e do email ines.carrelhas@gmail.com. Têm a duração de 6 a 9 horas, divididos em 2 ou 3 dias com horários flexíveis dentro do horário do museu em datas a agendar.

 

Inês considera esta experiência um lado interessante do projeto, através da qual se faz um molde do busto em ligadura de gesso, para exposição. “Acaba por ser um trabalho catártico”, garante-nos a artista, “de reconhecimento e aceitação”, onde se partilhará com outras mulheres, através da arte, uma experiência lúdica e emocional à volta do seu próprio corpo.

Isto, porque “o tema tem de ser falado, sem tabus”. “É preciso que o cancro deixe de ser um bicho de sete cabeças e que consigamos pegar nele, desmistificá-lo e tirar-lhe as cabeças”. Para os homens “o tema ainda é ainda mais importante”.

“Muitos dos que têm não querem falar assumidamente”, diz-nos empreendedora. Com o objetivo de tornar o assunto mais leve, Inês criou uma página de Instagram e partilhou já o testemunho deste outro lado. “O cancro de mama existe e esta é a forma que lhe dou para que esta dor seja transformada em Arte”, afirma.

Mamaminha teve a sua primeira exibição em 2020 no MUHNAC – Museu Nacional de Hisória Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa, seguindo, em 2021, para o The Passenger Hostel, na Estação de São Bento, no Porto e para o MIAT – Museu Industrial Artesanal Têxtil, em Mira de Aire. Em 2022 também passou pela Biblioteca Municipal de Portalegre. “A cada exposição há uma nova peça e, como não é uma mostra estática, está sempre a crescer e a mudar”.

A mais recente — Somos todas Marias — é composta pelo busto de oito mulheres. As instalações podem ser colocadas de forma diferente, mas o compromisso com a arte e com a causa nunca deixa de estar presente. A quinta edição é constituída por oito instalações realizadas por Inês Carrelhas em materiais têxteis, fios, papel, compressas, gesso e arames de soutiens e duas obras do artista convidado.

Sim, porque, sendo este um projeto agregador, a artista pretende em cada novo espaço criar uma nova peça, convidar um artista local a integrar a exposição e continuar o trabalho dos ateliers maria.mamaminha. Neste caso, o artista convidado é o pintor João Gama.

“O olhar sobre a situação, e principalmente sobre o seu sofrimento e isolamento está presente no inconsciente da Inês Carrelhas”, lê-se em comunicado. Esta exposição poderá ser visitada no Museu Francisco Tavares Proença Júnior, de 20 de novembro de 2022 até ao dia 15 de janeiro de 2023, de terça-feira a domingo, das 10 às 13 horas e das 14 às 18 horas. Inês convida todas as mulheres e homens que tenham sofrido de cancro da mama a fazer mais do que ver: participar e trabalhar as suas cicatrizes.

 

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