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Sobre o Livro:
Aos 20 anos cheguei a casa e rebentei com as portas do armário, assumindo-me como homossexual à minha família. O meu pai não aceitou o que eu era.
Dois meses depois decidi que queria morrer. Mas nem a morte me quis ao seu lado. Sobrevivi. Para reescrever a minha história. E não parece, mas esta terminou bem.
"Deixa-me ser" é o livro biográfico que relata a parte fulcral da minha vida que me definiu para sempre. Do preconceito ao suicídio, da violência ao afecto, do ódio à aceitação. Este é o conto de como a homofobia pode matar e de como numa longa noite escura o amor derrotou todos os medos.
Sobre o Autor:
Nasceu em Torres Novas no ano de 1986. Desde que aprendeu a escrever, sempre gostou de brincar com as palavras. Chegava a casa e criava continuações das estórias que tinha lido na escola primária. Nunca parou de explorar a sua criatividade. Seguiu para a área de Humanidades, tornando-se um apaixonado por História. Colaborou regularmente com jornais locais e escreveu peças de teatro para uma associação cultural. Estudou depois Ciências da Comunicação, onde teve aulas de Guionismo. Fez duas formações em Escrita Criativa, pois teve um sonho: ser escritor. O sonho realizou-se.
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Um excerto do livro:
“A discoteca estava cheia, a música electrificante e os nossos corpos levados pelo álcool, quando ele decidiu beijar-me à frente de todas as pessoas à nossa volta, incluíndo outros amigos seus. Fê-lo sem qualquer aviso prévio de que de um momento para o outro a nossa relação passaria a ser pública para todos os que não suspeitariam sequer da sua orientação sexual. Mais do que isso, aquele beijo teve um significado muito mais forte ao ter sido dado num local não lgbt. Por muito preconceituoso que afirmar isto possa parecer, é inegável o peso positivamente desafiador que te dá um arriscar destes.
Inicialmente parecia uma daquelas cenas de um videoclip, em que o tempo abrandou e tudo aconteceu mais devagar, fazendo-me sentir todas as cores das luzes que piscavam a iluminar o acontecimento, aumentando o gozo de ter os seus lábios suavamente encostados aos meus, potenciando o calor do seu corpo fundindo-se em mim. Era um instante raro e digno de ser filmado para a eternidade... até que um rapaz, que ia passar, parou ao nosso lado e gritou: “Paneleiros de merda!”.
Rosnou assim o seu ódio, como se fôssemos algum empecilho à sua passagem, quebrando de imediato aquela sensação de que estava a viver num mundo perfeito. Por breves momentos a tensão elevou-se, aqueles olhos de repulsa brilharam vermelhos, caíndo sobre nós, julgando-nos inferiores. Em mim cresceu só a ira por sentir toda a injustiça das fobias do mundo. Mas o agressor homofóbico decidiu avançar, deixando-nos para trás envoltos na sua aversão. Tentanto não dar demasiado valor, brinquei com a situação, afastando-me contra a parede e dizendo por entre o som estridente: «Não estamos no Trumps!». E tão depresa quanto disse essas palavras, tão fulminante como as nossas gargalhadas conjuntas, senti que tudo estava a escapar-me: o equilíbrio, o chão, o meu corpo. A noite tinha começado com muitos excessos. Os amigos dele tinham-nos oferecido uma droga qualquer, que tinha aceite sem questionar, só porque era leve.
Mas um peso bem pesado foi o que senti quando acordámos no banco de trás do carro, os dois completamente apagados, apenas despertados por um Sol que já brilhava bem forte. Do lado de fora da viatura estava um homem a olhar-nos com um ar muito curioso, que não me admirou nada. Por instinto, só consegui colocar uma mão sobre os olhos, para tapar a luz e a minha pouca vergonha. E ainda ri, sozinho, por achar perfeitamente normal que aquilo fôssemos nós: um rasto de destruição a caminho da séria violência. E esta estava quase, quase a chegar. E eu nada, nada preparado.
Mas foi mesmo por isso que no dia seguinte me deixei comover no banco de trás do mesmo carro quando relatei aquele incidente à amiga a quem chamava irmã e ela nos disse assim com a sua maneira única de tocar o coração de alguém:
"Vocês têm todo o direito de serem felizes e ninguém devia julgar um rapaz por amar outro rapaz."
Deixo o link para o livro aqui.
Post em Parceria com o autor Filipe V. Branco. Segue também o seu blog aqui.